19 junho, 2007

Opa cisão

Quando os americanos se preparavam para invadir o Iraque, desta última vez em que meteram os pés no atoleiro e têm agora lama até ao pescoço, recordo vozes que em Portugal e estrangeiro se levantaram imediatamente explicando como se tratava de um erro. Não é possível saber o que faria então o governo americano se conhecesse o desenvolvimento dos acontecimentos e as consequências, já sofridas hoje, pela insistência em avançar.
Diz-se que quanto mais próximo se está de um assunto, menos objectivo se consegue ser. Talvez por informação a mais, talvez por os interesses falarem mais alto do que a razão na avaliação da situação concreta e as consequências de determinada situação serem sub avaliadas pois “temos informação que os outros não têm disponível que nos permite determinado sentido de análise”.
No caso da Opa, o governo português, também ouviu vozes a levantar-se contra uma decisão que tecnicamente não está completamente fundamentada e cuja localização fez apresentar dúvidas importantes e bem explicadas por entidades de relevo. A falta de consenso social e técnico foi óbvia desde a publicação da decisão “final” de construir na Opa.
Porque razão não se fez de modo diferente? Porque não se arrepiou caminho mais cedo?
Agora já estamos envolvidos em um estudo sobre Alcochete e coloca-se, mesmo seriamente, segundo parece, a possibilidade de fazer um terceiro estudo sobre Portela+1.
Entretanto, o site da Naer, continua a publicitar a solução Ota. O(s) estudo(s) sobre localização alternativa parece manobra de diversão destinada a culminar na óbvia conclusão de como a Ota é a melhor das piores alternativas no projecto de desígnio nacional que não pode deixar de ser feito e vai custar o horror de euros que ainda não se conhece exactamente mas com certeza será mais do que o valor que pensamos.
O primeiro-ministro, já perdeu muito capital de apoio com todo este processo, mas a procissão ainda vai adro. Qualquer que seja o evoluir do processo, até há quem diga, talvez com certo exagero, que a Ota pode fazer cair o governo, já há uma cisão entre o país governante e o país governado.
Mas, então, porque há-de um projecto que depende, de uma objectiva necessidade de aumento dos passageiros a transitar no aeroporto da Portela, de uma decisão de avaliação eminentemente técnica, trazer tantos problemas ao governo e ao país?
Alguém me explica porque se erra apesar dos avisos feitos em alta voz e discurso estruturado?
Sócrates, até ao processo Ota, tinha o país nas mãos. A esperança em que fosse desta que tínhamos primeiro-ministro a sério era real, em pessoas de esquerda e direita ou sem orientação política.
Seria difícil, autonomamente, sem as trapalhadas dos estudos que aparecem “vindos do chão” com polémica se encomendados, ou não, pelo governo, encaminhar o processo desde mais cedo de modo diferente?
Os interesses cegam o decisor? A falta de razão impede a avaliação das consequências?
No decurso dos acontecimentos, o primeiro-ministro, atrapalha-se, é apupado pelo povo, diz disparates em conversa com Putin, e finalmente fica demonstrado que já não é capaz de ser primeiro-ministro. Será que alguma vez o foi? Ou era a “nossa” vontade de o fazer primeiro-ministro que o fazia primeiro-ministro?
Tristeza das tristezas, as próximas legislativas já estão no horizonte curto e as agendas já pensam nelas. Imagine-se que uma das alternativas possa ser Rui Rio!
Estamos atrapalhados e tramados.
Neste processo inquinado de falta de senso em que governantes, políticos e povo, se enrolam, orgulho, dignidade, auto respeito, são os custos importantes. Como também são, a redução do amor-próprio, o comprometimento e vergonha em um país que já se vê mal ao espelho, se sente diminuído e tem pouco respeito por si próprio.
Mas, olhando para o modo como os nossos políticos mais responsáveis se comportam até para consigo mesmo, que se pode pensar?

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