03 junho, 2007

Coment a Daniel Oliveira

http://arrastao.weblog.com.pt/arquivo/2007/06/um_discurso

Daniel,

Li o teu discurso e a moção A vencedora.
A moção não acrescenta. Repete dentro dos mesmos jargões que se podem esperar de uma esquerda dita progressista. Posições da direita progressista têm o mesmo valor em termos de atingir com sucesso (leia-se número de votantes) as necessidades do eleitorado, conquistar votos e garantir posição de poder influenciar e mudar socialmente. Esta influência só poderá ser obtida estando no poder. Logo, e porque o bloco também não é capaz de se abstrair de uma comunicação ideologicamente carregada, mantêm a distância entre si e o poder.
Tal como o bloco de esquerda se tem assumido, e o próprio nome Bloco de Esquerda é uma principal limitação, estão condenados a manter-se como franja do poder político.
Nos tempos que correm, as posições ideológicos são a primeira condição para construir o fracasso como força que pretenda vencer eleições.
“Ninguém” crê que haja uma qualquer receita teórica para a gestão social. Mesmo que haja uma necessidade de enquadramento histórico e social para tomar decisões políticas, o eleitorado procura o pragmatismo.
Esse pragmatismo é afirmado, lamentavelmente, por posições e técnicas objectivas servidas pelo marketing, a sociologia e a psicologia de massas. Ou seja, garantido por bons publicitários e directores de imagem.
A afirmação procurada pelo bloco e aprovada na moção A, com uma mensagem estruturada em grandes objectivos de interesse fundamental, ambiente, igualdade, combate à imbecilidade americana, ou à parvoíce europeia, não comunica com o eleitorado.
Outro aspecto limitador do potencial de atingir o eleitorado descontente com a política, o eleitorado “esclarecido”, à esquerda ou à direita, é a imagem central do partido bloco de esquerda: Louçã não transmite qualquer confiança. Não tem aspecto forte, nem aparece como um chefe destemido capaz de afrontar todos os interesses. Aparece, desculpa se o digo, como mais um político oportunista, de esquerda, ideologicamente carregado, e em consequência em quem não se pode confiar. Uma das medidas de avaliação do líder, será o tempo que se é capaz de ficar, mesmo que hipnoticamente, a ouvi-lo comunicar. Com Loução, tem-se vontade de mudar de canal.
É lamentável que com a fome de alternativa aos políticos e à forma de governar e estar na política, o bloco se tenha desperdiçado. Poderia ter uma posição mais importante, mais crítica no sentido de ser factor de diferenciação de atitudes e maneira de pensar a coisa pública mas continua a parecer uma reminiscência dos tempos do PSR. Mesmo que não o seja.
O espaço eleitoral de aceitação de alternativa à política tradicional, corrupta, interesseira, liberal (leia-se desumana), continua a oscilar de nova esperança em nova esperança. Em cada ciclo procuramos descobrir O homem capaz de endireitar o cronicamente torto. Sócrates, um homem que comanda um barco vazio de carga ideológica e pronto a apanhar o melhor vento que sopre, conseguiu passar essa mensagem ao eleitorado e por isso ganhou. Talvez ganhe de novo as próximas legislativas, já sem maioria, mas ainda ganhará com certeza. O torto continuará torto.
Parabéns pelo teu discurso e votos de sucesso no combate.
E sim, o consenso neo-liberal é cada vez mais real. Qual a nova ideologia que se lhe oporá? As antigas não estão municiadas para o efeito.

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