24 junho, 2007

A II guerra no Iraque e o seu impacto no preço do petróleo

Este post foi sugerido por uma discussão blogo-desportiva lançada pelo post no blog O Triunfo dos Porcos, http://o-lidador.blogspot.com/2007/06/internacional-do-contra.html#links.

A "Internacional do Contra", será uma qualquer organização das piores e mais perigosas porque não tem estrutura formal mas resulta de um conjunto de pressupostos ideológicos associados à esquerda ignorante e preconceituosa que de modo informal cria toda uma teoria da conspiração.

O argumento de O Triunfo dos Porcos contra essa teoria da conspiração, visa demonstrar como os preguiçosos, os esquerdistas, não são mais do que vítimas da sua própria indolência enquanto os capitalistas, os outros, cumprem o seu natural e legítimo destino de acumulação de lucro.

Ou seja, os “conspiradores” têm o pleno direito de usar todas as armas ao seu dispor para impor a sua lógica lucrativa. Os autores da teoria da conspiração, em vez de se queixarem, o que fazem por inveja e por não poderem estar na posição dos “outros”, devem estar calados e pagar. Têm também o pleno direito de tentar chegar ao nível de conspirador e a liberdade de lucrar da mesma forma se o quiserem e em plena liberdade. Pelo menos há alguma democracia.

Assim, na caixa de comentários do post acima referido que até ao momento em que escrevo isto, tinha 34 comentários, o desporto chegou ao ponto de decidir se o impacto da guerra no Iraque e a subida da procura na China e Ásia na procura de petróleo eram suficientes para explicar a subida do preço.

Para alguns, será óbvio que o preço actual do petróleo tem uma componente de especulação e o atira para níveis artificiais. Para outros, não.

No final da discussão, disseram-me, para ir estudar economia do 10º ano e ver como o preço não tem que variar proporcionalmente às variações da procura e oferta.

Com prazer e por desporto, fui procurar dados que explicassem concretamente uma ou outra posição.

Como não tinha o Samuelson à mão, procurei na wikipedia e encontrei: http://en.wikipedia.org/wiki/Supply_and_demand. De facto preço não tem que variar proporcionalmente às variações da procura e oferta. Apenas em situação de mercado perfeito o pode fazer. Mas, em situação de oligopólio, o preço pode variar mais do que faria, em equilíbrio, ou seja, mercado livre.

Assim, a primeira nota, algo curiosa, é como a OPEP (os países árabes) tem uma relativa importância na estrutura da oferta petrolífera actual:

Fonte de dados: http://www.fundsupermart.com/main/articleFiles/webarticles/1641/SG/WorldOilSupplynDemand2005.gif

Depois, cruzei as variações da oferta e da procura com o preço.
Fonte de dados: http://www.fundsupermart.com/main/articleFiles/webarticles/1641/SG/WorldOilSupplynDemand2005.gif e, http://opec.pbwiki.com/f/opecpriceband.gif e, http://www.peak-oil-crisis.com/

Algures em 2003, e segundo a teoria económica de base em mercado livre, o preço deveria ter estabilizado, em torno dos 35 USD o barril. Mas tal não aconteceu.

De seguida, e para ficar mais claro, fui verificar a flutuação percentual, e face a 2001, das três linhas:
Fonte de dados: http://www.fundsupermart.com/main/articleFiles/webarticles/1641/SG/WorldOilSupplynDemand2005.gif e, http://opec.pbwiki.com/f/opecpriceband.gif e, http://www.peak-oil-crisis.com/


Caramba! O valor de 2003 devia ser o actual, isto segundo Samuelson.

Mas o que terá acontecido? Porque pagamos agora quase 70 USD por barril (http://www.oil-price.net/?gclid=CKmc4Ovk9IwCFQc8EAodOBREcg)

Um teórico chamado Stiglitz, atribui à II guerra no Iraque, um peso de 5 a 10 USD por barril no actual preço.

A China e a Ásia, não têm correspondido à expectativa de subida de procura. Então, entre os 35 USD que deveria ser o preço actual segundo a ortodoxa teoria económica do mercado livre, onde já está considerado algum impacto da guerra no Iraque e o crescimento asiático, os quase 70 USD reais, estão 35 USD por explicar.

Desconte-se, a inflação, a desvalorização do dólar americano, a valorização do euro. Quanto ficará por conta da utilização liberal das oportunidades fornecidas pelo mercado livre bem utilizado por forças esclarecidas e competentes?

Desculpem alguns leitores se os aborreço, mas é mesmo preciso explicar tudo, por vezes.

É que os Porcos triunfam de vez em quando. Apenas não são, só, aqueles se esperava que triunfassem, mas os outros Porcos também.

4 comentários:

Anónimo disse...

Este artigo deu-lhe algum trabalho, sem dúvida, mas embrenhado contemplação da folha, não foi capaz de ver a floresta.

Em 1º lugar, a concorrência perfeita não existe...é apenas uma abstração académica, um conceito puro, equivalente ao que na Física se designa por "condições ideais de pressão e temperatura".

Os preços são ditados pela oferta e pela procura e por tudo o que a montante as afecta e as determina.

Nomeadamente as expectativas.

No caso do petróleo, o seu preço é estabelecido no mercado de futuros, isto é, fazem-se contratos a prazo, em preços que ambas as partes acham que serão razoáveis na ocasião em que o negócio se concretizar.

Há aqui portanto uma tentativa de previsão em que ambas as partes fazem cálculos procurando ganhar.

Tratando-se tb de um produto vital, e jazendo em regiões de grande instabilidade, qualquer notícia reforça e amplifica os medos, fazendo as partes contratante acreditar que daqui a uns tempos estará pior e será mais caro.

É um jogo psicológico, como o é sempre o mecanismmo de fixação de preços por via do mercado.
Mas é um jogo em que se pode ganhar e é isso que o torna excelente e procurado.

Muitas das notícias e atitudes conflitivas são alimentadas artificialmente pelos produtores, a quem naturalmente interessa manter os preços altos.
O que ajuda a explicar a agressividade de Amadinejah, Chavez e até Putin.

No fundo, tratam de fazer render o seu peixe.

São estas as regras...e quem quer ganhar o jogo de futebol tem de jogar com as regras do futebol.

João Pereira da Silva disse...

Caro Lidador, foram 45 minutos e prazer desportivo...
E sim, não há concorrência perfeita e interessa acalentar todas as notícias negativas que possam permitir ganhar vantagem sobre a procura.
Entre elas o mito do fim do petróleo nos próximos 50 anos.
Se por um lado as reservas são o segredo mais bem guardado, por outro a evolução técnica da exploração, transporte, processamento e consumo, permitem antever um ciclo de vida mais longo ao petróleo.
Mas como refere, o mercado também vive muito da incerteza/ignorância dos operadores.

Unknown disse...

[Mas como refere, o mercado também vive muito da incerteza/ignorância dos operadores. ]

Todos os operadores procuram obter o máximo de informação,mas há mercados que só funcionam com déficite de informação. É o caso dos seguros.
Se a companhia soubesse tudo do segurado, estabeleceria um prémio que corresponderia ao que efectivamente iria gastar, acrescido do lucro.
E se o segurado soubesse tudo, não faria o seguro.

Assim, este mercado, essencial no mundo moderno, só é possível porque as partes não têm informação fidedigna.

E a realidade prova que é este complexo jogo que mais vantagens dá a quem compra e vende...cria-se um equilíbro espontaneo, uma ordem natural, muito mais sustentável e ordenada, digamos assim, do que qualquer sistema centralizado que tente impor a ordem a partir de cima, neste caso, fixando preços.
A URSS tentou fazer isso e criu um inacreditável organismo (GOSPLAN)para o concretizar.
Falhou em toda a linha...o sistema é de tal modo complexo que se pode considerar caótico, com infinitas relações, impossíveis de prever e antecipar.

João Pereira da Silva disse...

Os planos quinquenais, a vontade de tudo controlar, a hiper regulação estatal que resulta numa renovada forma de descontrolo.
A questão que coloco é (e sem deturpar a liberdade da bolsa ou mercado livre)como controlar os excessos do libertismo capitalista.
Não penso em reduzir ou limitar os meios legítimos de acumulação/criação de riqueza, mas como controlar corporações, estados incluídos, que desenvolvem modelos "mafiosos" de acumulação ilegítima de riqueza e poder. As petrolíferas, não estarão no limite do legítimo? Ou a medida da minha legitimidade é o limite do meu poder?
As corporações e a sua influência no estado moderno. Como se controla a sua influência excessiva no poder político? Historicamente a promiscuidade tem sido constante em qualquer sistema.
Mas, democracia, valores incluídos, deve ser pela aplicação racional dos recursos. Não me parece racional comprometer toda uma economia, mundial agora, por cobiça de uns quantos, só porque estes podem.
Ou então, estou errado, e é necessária e executada com auxílio da tal mão invisível, uma enorme acumulação de riqueza na mão de alguns, por necessidade de algum gigantesco investimento futuro na própria economia, para benefício de todos.
Se assim for são as forças do mercado a funcionar.
Mas, por aí, parece-me entrar no mito.